Prezados colegas

Escrevo esse relato da minha recente experiência com o Programa Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) aos meus pares: alunos do Stricto Sensu, nossos professores e orientadores (parceiros indissociáveis para qualquer aventura acadêmica bem-sucedida), coordenadores de programas de pós-graduação, e pesquisadores em geral que também reconhecem a importância da mobilidade acadêmica e da internacionalização nas pesquisas científicas.

Contextualizando brevemente uma linha do tempo, meu ingresso no Doutorado ocorreu no início de 2019, o reconhecimento da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em março de 2020, o parto da minha segunda filha em agosto de 2020, o início de minha mobilização para candidatura ao PDSE em dezembro de 2020, o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil no final de janeiro de 2021, a minha entrada no Canadá em novembro de 2021, e meu retorno ao Brasil em março de 2022. Meu propósito é contribuir para o entendimento de que é possível alçar esse voo, ainda que haja circunstâncias adversas!

Uma experiência internacional em pesquisa científica deve começar com a transição do desejo para a decisão, trilhando um dispendioso caminho de incertezas, com a firme perspectiva de que vale a pena. O enriquecimento acadêmico, teórico e cultural, a possibilidade de aprimoramento de um segundo idioma, e a perspectiva de expansão da sua dissertação ou tese em desenvolvimento no seu país são variáveis propulsoras do desejo por um intercâmbio no exterior.

A decisão por pleitear uma oportunidade ocorre quando essas variáveis assumem valores tão grandes superam a perspectiva de ônus ou custo (financeiro, emocional, consumo de tempo etc.) que se prevê a tal processo. Ela recebe impulso quando o apoio do professor orientador e do Programa são garantidos, o que tive a felicidade de vivenciar. E é consolidada com o apoio da família e dos entes queridos, o que em meu caso era um fator decisivo, pois a articulação de meu esposo, pais, irmão e cunhada viabilizou que eu levasse comigo meus dois filhos, então com 4 anos e 1 ano e 2 meses de idade, e não interrompesse o aleitamento materno da caçula.

Uma vez decidida a candidatura ao PDSE, inicia-se uma jornada de preparação que inclui definir um projeto a ser desenvolvido no exterior, o que por sua vez aponta a direção da escolha do possível orientador estrangeiro e define o país do intercâmbio. Esse orientador, que deverá redigir uma carta endereçada à CAPES atestando interesse em lhe receber e lhe orientar, deve ter produção acadêmica consolidada e relevante para o desenvolvimento da dissertação ou tese do candidato. Para minha felicidade, minha orientadora estrangeira atua em um país incrível, acolhedor e com uma cultura multiétnica tal qual eu nunca vi: o Canadá.

O candidato precisará elaborar um plano de estudos no exterior em acordo com seus dois orientadores (o brasileiro e o estrangeiro pretendido) que seja original, pertinente com sua dissertação ou tese, com potencial de multiplicação, e exequível no cronograma proposto. A candidatura requer também as comprovações de proficiência na língua do país ao qual está se candidatando, e do seu bom desempenho acadêmico/potencial científico.

A CAPES não exige a apresentação do passaporte ou do visto de estudos na ocasião da candidatura, mas eles serão imprescindíveis e urgentes no caso da aprovação. Os procedimentos relacionados à emissão de passaportes e vistos sofreram profundo impacto ao longo da pandemia, com períodos de absoluta restrição aos pedidos protocolados, acúmulo de processos e sobrecarga dos sistemas, resultando em atrasos e incertezas. Foram meses correndo contra o tempo e lidando com a burocracia e a angústia até receber a notícia da aprovação dos vistos pelo governo Canadense. Veja bem: foram emitidos o meu visto de estudos e dois vistos de turismo para duas crianças pequenas, em um momento de restrição total das viagens não-discricionárias pela Imigração Canadense. Não posso atribuir essa conquista a outra razão a não ser à intervenção de Deus.

Vencidas as dificuldades de viabilização da viagem, fomos acometidos pelo rigoroso inverno Canadense e por uma segunda onda de disseminação da Covid-19, com o advindo da variante Omicron do SARS-CoV-2. Houve decreto de lockdown no Canadá, o que prejudicou a ocorrência de encontros presenciais que poderiam ter intensificado a interação com o grupo de pesquisadores com que trabalhei. Ainda assim, o estágio em pesquisa foi produtivo a ponto de que consegui conquistar a confiança da minha orientadora Canadense no intercâmbio, bem como dos demais membros da equipe de pesquisa de um grande projeto denominado HeLTI Canada Study, o qual estudei profundamente para poder me integrar e contribuir. Isso me proporcionou adquirir várias habilidades relacionadas com a organização, manejo e recrutamento de participantes em pesquisa, procedimentos organizacionais para intervenção e seguimento dos participantes envolvidos em uma pesquisa de grande porte.

Orientada pela Dra. Cindy Lee Dennis e com o apoio remoto do meu time de pesquisa brasileiro, executei meu projeto de desenvolver uma versão em inglês para o app AmamentaCoach, fruto de minha pesquisa de Doutorado no Brasil, o qual foi amplamente discutido com a equipe de apoio canadense. Com o apoio da orientadora canadense e sua equipe, escrevi um projeto nos moldes dos Comitês de Ética em Pesquisa do Canadá, para futura submissão, e elaborei os instrumentos para coleta de dados, adaptamos algumas imagens do app para o contexto do Canadá e selecionamos um painel de juízes canadenses para avaliação do The Breastfeeding Coach App. Atualmente, de volta ao Brasil, estou trabalhando na sistematização e análise dos dados resultantes da validação dessa versão em inglês pelo painel de juízes canadenses, e mantendo contato e atividades com a Dra Cindy-Lee Dennis e sua equipe.

Não poderia deixar de reforçar a importância do auxílio com bolsas do PDSE da CAPES, que promove e viabiliza oportunidades de intercâmbio de conhecimento e cultura que tanto enriquecem e desenvolvem a pesquisa no Brasil e globalmente. Agradeço todo o apoio que recebi, e coloco-me à disposição para auxiliar aqueles que desejarem ingressar em jornadas semelhantes, o que recomendo fortemente!


Gabriela Ramos Ferreira Curan

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina (PPGENF – UEL) desde 2018, sob orientação da Dra. Edilaine Giovanini Rossetto.

Uma parte do The Mothering Transitions Research Group
Da esquerda para a direita: Dr. Justine Dol, Postdoctoral fellow; Dr Cindy-Lee Dennis, Principal Investigator; Dr. Flávia Marini, Research Manager, e Me. Gabriela Curan”