Hannah Arendt e a questão da Ideologia
Robson José Valentino Cruz, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 29/03/2023
O tema da presente pesquisa é a concepção de ideologia apresentada por Hannah Arendt. Questionam-se o que é ideologia para Arendt e como a modernidade contribui para o seu uso como dominação. A pesquisa justifica-se por considerar que a ideologia na concepção de Arendt é um fenômeno da era moderna. A ideologia, como lógica de uma ideia, se configura como força que controla e guia o pensamento das pessoas e suas ações, vindo a substituir o senso comum. O senso comum, o “sexto sentido”, que possibilita o juízo reflexivo, é substituído pela ideologia transformando-se em força material da psicologia das massas. Arendt assevera que os movimentos totalitários modernos fazem uso da ideologia para controlar externa e internamente as pessoas; a linguagem, a história, o racismo e a religião assumem papel preponderante, contribuindo para a dominação da ideologia. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo analisar como a ideologia é realizada materialmente na sociedade no que diz respeito à linguagem, a história, ao racismo e a religião. A pesquisa preocupa-se também em debater fenômenos que exemplificam como as ideologias funcionam para a fundamentação e propagação do racismo, como estopins para guerras civis, fundamento para o nacionalismo e para os movimentos étnicos e de classe, bem como para fundar e manter regimes totalitários comuns na Europa do Século XX. A hipótese aponta que a recusa ao pensar livremente é um aspecto importante das ideologias, uma recusa ativa de abertura ao mundo que destrói o poder de julgar e de compreender. Mais importante do que o conteúdo teórico, bem como a doutrina que a ideologia professa, é a cegueira que ela causa, em virtude da recusa ao mundo real e da falta de qualquer espaço para a pluralidade; recusa aos elementos que propiciam o exercício do julgamento e da autonomia de julgamento. A pesquisa é bibliográfica e concentra-se principalmente na obra de Hannah Arendt Origens do totalitarismo. Conclui-se que os regimes totalitários e os Estados Nacionais fizeram uso das ideologias — em seu aspecto político e racial — para alcançar o objetivo de dominação total de maneira a culminar não apenas no isolamento político, que está ligado à vida pública dos cidadãos, mas também na destruição interna da capacidade das pessoas refletirem e estabelecerem juízos acertados.
Necropolítica Através De Suas Influências: Achille Mbembe na Encruzilhada entre Estado De Exceção, Biopoder e Colonialidade
Tadeu José Migoto Filho, Prof. Dr. Marcos Alexandre Gomes Nalli
Data da defesa: 15/08/2022
Achille Mbembe consiste em um dos grandes nomes do pensamento político contemporâneo. Foi sobretudo como seu conceito de necropolítica que seus trabalhos ganharam notoriedade no meio nacional. Todavia, apesar de se tratar de um autor em evidência, ainda é possível constar uma certa escassez de literatura especializada sobre Mbembe e sua obra no país. Com isso, a presente dissertação procura, valendo-se do método de revisão bibliográfica, esclarecer e contextualizar a noção de necropolítica em Mbembe. Para tanto, utilizamos como estratégia teórica a apresentação dos propósitos e intuitos do autor camaronês através de um diálogo com suas principais fontes e influências. Dentro dessa perspectiva se torna possível vislumbrar o pensamento de Mbembe como situado em uma encruzilhada teórica entre estado de exceção, biopolítica e colonialidade. Assim, investigaremos inicialmente as teorizações sobre o estado de exceção, conforme iniciadas por Carl Schmitt e continuadas por autores como Giorgio Agamben. Essa primeira investigação importará para a compreensão da colônia como uma forma de exceção e um dos baluartes do terror moderno. Em seguida, nos debruçaremos sobre as reflexões de Michel Foucault, sobretudo quanto ao biopoder e o racismo de Estado, a fim de elucidar a colonização como uma experiência biopolítica e bioeconômica. Após o que, passaremos a investigar as peculiaridades do necropoder em relação ao biopoder. Para tanto, o pensamento de Frantz Fanon nos será indispensável, já que à sua obra a que Mbembe recorre, não apenas para compreender o funcionamento da violência em solo colonial, como também para integrar as insuficiências do pensamento de Foucault. Por fim, exporemos como a necropolítica pode ser contextualizada dentro dos rumos que a filosofia de Mbembe vem apresentando nos últimos tempos, notadamente no que concerne às suas implicações com as noções de devir-negro e de brutalismo.