Teses e Dissertações
Palavra-chave: Hannah Arendt
APROXIMAÇÕES ENTRE PLURALIDADE EM HANNAH ARENDT E PERFORMATIVIDADE EM JUDITH BUTLER: O ESPAÇO PÚBLICO
Danillo Augusto Perioto, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 11/12/2024
O tema da pesquisa diz respeito ao conceito de pluralidade de Hannah Arendt e de
performatividade de Judith Butler. Problematiza-se em que sentido o cerceamento e a coibição
da pluralidade e da performatividade de gênero no espaço público compromete o Estado
Democrático de Direito e a ideia de liberdade que deveria fundá-lo. A pesquisa justifica-se haja
vista que a liberdade é o fundamento de qualquer Estado que se afirme democrático, um direito
fundamental que deve contemplar todos. Tendo como objetivo caracterizar a pluralidade e a
performatividade de gênero como exemplos de realização da liberdade e da construção política
nas perspectivas de Arendt e Butler sob o prisma do espaço público, busca-se construir um
“diálogo” entre elas para reforçar – ou evidenciar – sua validade. A hipótese indica que a
pluralidade é o ponto central da construção do espaço público e da política e desrespeitá-la torna
o espaço público apolítico e pode abrir caminho a autoritarismos que, em geral, oprimem quem
é distinto. A pesquisa utiliza como método a revisão bibliográfica de textos de Arendt e Butler,
acrescido de textos de seus comentadores e de outros autores devotados ao tema. Hannah
Arendt afirma que o espaço público é o espaço da liberdade e da aparência, que só ocorre entre
as singularidades formadoras da pluralidade, sem as quais inexiste o espaço público. Butler
concebe que, toda vez que um corpo é restringido em seu aparecer no espaço público, está
enquadrado como uma não vida e marcado por uma política precária. Ao se analisar os
conceitos de pluralidade em Arendt e de performatividade em Butler, constata-se uma
convergência fundamental entre elas sobre o significado de espaço público, que ambas
reivindicam ser o espaço de liberdade e de exercício dos direitos de todos. Ao final, é possível
concluir que, enquanto a sociedade não for capaz de reconhecer a pluralidade e a diversidade
humanas e, dentro delas, as performatividades de gênero, entre outras minorias sociais,
continuar-se-á encenando uma pseudopolítica e pseudodemocracia, pois a condição de
existência de todas as pessoas não é ideológica, mas o direito fundamental de existirem e de se
expressarem.
O HOMEM ATOMIZADO E A CRISE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: REFLEXÕES A PARTIR DE HANNAN ARENDT
Alessandro Marinelli de Oliveira , Maria Cristina Müller
Data da defesa: 04/07/2024
A tese trata da degeneração da democracia representativa. Tem por justificativa a superação da
crise pelo exercício direto da política, que transcenda as liberdades privadas e não se resuma ao
bem-estar social em prestígio aos princípios republicanos, à liberdade e à felicidade públicas.
Questiona-se de que modo e por que meios o fortalecimento dos princípios republicanos, da
liberdade e felicidade públicas, podem se tornar possível para superar a degeneração do governo
composto por uma elite política eleita, em geral, pelo homem atomizado, e, portanto,
ideologizado e alheio aos assuntos públicos – compreendido como aqueles assuntos referentes
à construção do bem-comum e ao respeito à pluralidade. Objetiva-se analisar a degeneração do
governo que, sob o regime de democracia representativa, torna possível a instalação de
movimentos autoritários; objetiva-se ainda identificar os componentes da república que
autorizam a participação política direta nos assuntos públicos. Para tanto, realizar-se-á pesquisa
principalmente dos escritos de Hannah Arendt; a título de abordagem, revisão bibliográfica, e,
em relação ao procedimento, o monográfico. Como resultado, aponta-se os caminhos e as
estruturas republicanas, a exemplo do sistema distrital, que podem evitar a degeneração do
governo por meio da democracia apenas representativa com vistas ao aprimoramento do estado
democrático de direito e ao revigoramento da res publica.
A constituição do Eu em Hannah Arendt
ALINE MARIA RIBEIRO-CANTU, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 23/01/2024
Esta pesquisa analisa a constituição do Eu em Hannah Arendt, concentrando-se em
dois momentos centrais de seus escritos: a abordagem da solidão como experiência
existencial radical de perda do Eu e a dualidade da identidade na atividade do
pensar, em que um Eu se transforma em dois, metaforizando o diálogo interno do
pensar. Pergunta-se pela constituição do Eu em Hannah Arendt, de modo que o
objetivo central é compreender como tal constituição se apresenta ao mundo.
Utilizando a revisão bibliográfica como metodologia, foram examinados os textos
Que é filosofia da existência, Origens do Totalitarismo, A Condição Humana e A Vida
do Espírito, bem como Eichmann em Jerusalém, Karl Jaspers: uma laudatio e Karl
Jaspers: Cidadão do Mundo. A análise permitiu localizar momentos específicos em
que Arendt aborda a noção do Eu e discute temas relacionados, como a questão do
ser, do pensamento, da identidade, da pessoa e da personalidade que emerge no
mundo por meio de atos e palavras. Verificou-se que, em Arendt, o Eu é formado por
meio de relações com os outros, com o mundo e consigo mesmo, caracterizado pela
pluralidade do diálogo interior e do diálogo exterior. O Eu é concebido como plural,
relacional e livre. Em contextos sociais fragilizados, a falta de responsabilidade pelo
mundo resulta em indiferença e individualismo, culminando na busca de refúgio em
um mundo lógico e coerente. Conclui-se que o Eu, se privado de relações, torna-se
cindido, apresentando uma falta que fragiliza sua posição no mundo. Esse Eu
fragilizado pode escolher não se responsabilizar pelo mundo em que vive, gerando
uma disposição generalizada de indiferença em relação às demais perspectivas.
Hannah Arendt e a questão da Ideologia
Robson José Valentino Cruz, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 29/03/2023
O tema da presente pesquisa é a concepção de ideologia apresentada por Hannah Arendt. Questionam-se o que é ideologia para Arendt e como a modernidade contribui para o seu uso como dominação. A pesquisa justifica-se por considerar que a ideologia na concepção de Arendt é um fenômeno da era moderna. A ideologia, como lógica de uma ideia, se configura como força que controla e guia o pensamento das pessoas e suas ações, vindo a substituir o senso comum. O senso comum, o “sexto sentido”, que possibilita o juízo reflexivo, é substituído pela ideologia transformando-se em força material da psicologia das massas. Arendt assevera que os movimentos totalitários modernos fazem uso da ideologia para controlar externa e internamente as pessoas; a linguagem, a história, o racismo e a religião assumem papel preponderante, contribuindo para a dominação da ideologia. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo analisar como a ideologia é realizada materialmente na sociedade no que diz respeito à linguagem, a história, ao racismo e a religião. A pesquisa preocupa-se também em debater fenômenos que exemplificam como as ideologias funcionam para a fundamentação e propagação do racismo, como estopins para guerras civis, fundamento para o nacionalismo e para os movimentos étnicos e de classe, bem como para fundar e manter regimes totalitários comuns na Europa do Século XX. A hipótese aponta que a recusa ao pensar livremente é um aspecto importante das ideologias, uma recusa ativa de abertura ao mundo que destrói o poder de julgar e de compreender. Mais importante do que o conteúdo teórico, bem como a doutrina que a ideologia professa, é a cegueira que ela causa, em virtude da recusa ao mundo real e da falta de qualquer espaço para a pluralidade; recusa aos elementos que propiciam o exercício do julgamento e da autonomia de julgamento. A pesquisa é bibliográfica e concentra-se principalmente na obra de Hannah Arendt Origens do totalitarismo. Conclui-se que os regimes totalitários e os Estados Nacionais fizeram uso das ideologias — em seu aspecto político e racial — para alcançar o objetivo de dominação total de maneira a culminar não apenas no isolamento político, que está ligado à vida pública dos cidadãos, mas também na destruição interna da capacidade das pessoas refletirem e estabelecerem juízos acertados.