Indicadores de saúde ambiental e a hidrogeoquímica como ferramentas para a discussão sobre a incidência de neoplasias na Regional de Saúde de Apucarana (PR)

Tese de doutorado

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Resumo

O presente trabalho teve por objetivo compreender e discutir a distribuição geográfica da mortalidade por neoplasias na Regional de Saúde de Apucarana (RSA) e identificar os riscos ambientais para a saúde humana, através da análise multielementar das águas superficiais e subterrâneas e dos indicadores de saúde ambiental. Os dados sobre mortalidade por neoplasias da RSA, no período de 2008 a 2017, foram obtidos no Sistema de Informações sobre Mortalidade/DATASUS, e os dados de neoplasias de Apucarana, no período de 2011 a 2015, foram obtidos na Secretaria de Saúde de Apucarana. Foram coletadas 85 amostras de águas na RSA, 23 superficiais e 62 subterrâneas. As amostras foram analisadas no MP-AES (Espectrômetro de Emissão Atômica com Plasma por Microondas), para a determinação da concentração de Al, Ba, Cd, Ca, Pb, Cu, Cr, Sr, Fe, Mn, Ni, K e Zn. A análise espacial dos dados hidrogeoquímicos, foi realizada por meio do método geoestatístico de krigagem ordinária. Foi realizada uma análise da distribuição das mortalidades por neoplasias por taxas/100.000 habitantes. A construção dos indicadores de saúde ambiental da RSA foi elaborada conforme a matriz “FPSEEA”. A análise espacial dos indicadores de saúde foi realizada por meio do Índice de Moran Local, onde os indicadores locais de autocorrelação espacial permitem a identificação de agrupamentos. A correlação linear de Pearson foi utilizada para averiguar o grau de relação entre as taxas médias por neoplasias e os indicadores de saúde ambiental. Os municípios de Jandaia do Sul, Borrazópolis, Kaloré, Novo Itacolomi, Califórnia, Rio Bom e Sabáudia apresentaram a maior incidência de neoplasias na população, ou seja, o maior risco de morte por câncer na RSA. Com relação às taxas de mortalidade pelos principais tipos de neoplasias da RSA, observou-se que em metade dos municípios as maiores taxas são por neoplasia maligna dos brônquios e pulmões, seguida por neoplasia do estômago, da próstata e da mama. Com a construção dos indicadores de saúde ambiental da RSA, caracterizando o contexto de cada município, os resultados integrados possibilitaram identificar que as variações na incidência de neoplasias entre os municípios da RSA, refletem em muitos casos sua relação com os fatores de risco, modos de vida e também na falta de acesso aos serviços de saúde, identificando que as pessoas que residem nos munícipios com pior nível socioeconômico, apresentam piores condições de saúde, estando mais vulneráveis às doenças. A utilização da hidrogeoquímica como ferramenta para identificação de áreas de risco à saúde humana, evidenciando lugares com valores físico-químicos anômalos na água, evidenciou que a população de Borrazópolis, Mauá da Serra, Grandes Rios, Marilândia do Sul, Arapongas, Kaloré, Cambira, Apucarana, Califórnia e Novo Itacolomi, estão mais expostas e vulneráveis a esses agentes químicos. O município de Apucarana mostrou um maior número de mortes por neoplasia maligna dos brônquios ou pulmões, próstata, mama, estômago e fígado. Além dos fatores ambientais que podem afetar a saúde humana, a segregação espacial da população por posição socioeconômica, torna os contextos sociais nos quais as pessoas vivem em adicionais potenciais determinantes de saúde. O conhecimento acerca do ambiente, e da saúde da população, com núcleos de estudo voltados à caracterização dos locais, possibilita uma prática direcionada às problemáticas identificadas, assim como uma mobilização do poder local, visando a promoção da saúde.